Energia Renovável cresce em lugar inesperado: o Oriente Médio

energia sustentável: usina solar

Embora sejam ricos em petróleo e gás natural, os países começam a investir em outra fonte abundante na região, a luz do sol, e em meio a desafios, a energia renovável ganha cada vez mais espaço. 

Os países do Oriente Médio e Golfo Pérsico são mais conhecidos por suas grandes reservas de petróleo e gás natural, fontes tradicionais de geração elétrica. No entanto, crescem a cada dia o número de instalações de projetos solares, através de investimentos privados e de companhias elétricas, visando aproveitar o potencial da fonte na região, como por exemplo a Jordânia, que tem em média 330 dias de sol no ano.

Cidades como a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos são exemplos de lugares onde essa fonte de energia renovável já está sendo disseminada. Usinas solares, e em menor quantidade parques eólicos, têm fornecido energia de forma acessível e confiável. Embora a participação dessas fontes limpas seja incipiente na capacidade energética da região, respondendo por 5%, especialistas enxergam um potencial real de crescimento.

“No passado, toda vez que eu costumava encontrar com ministros de energia em algum dos países ricos em petróleo e gás, e falava em energias renováveis, aquela reunião acabava em um segundo, ” disse Nabil Habayeb, presidente da General Eletrics e chefe executivo para o Oriente Médio e África do Norte. “Hoje, muitos deles estão ansiosos por falar sobre o assunto. Seja você rico em petróleo ou não, elas são uma grande tendência. ”

Essa não é a primeira vez que esse interesse pela energia renovável surge nesses países, no entanto, a crise financeira mundial em 2008 delongou a implantação dessas tecnologias. Hoje, com a necessidade de assegurar o suprimento de energia em tempos de turbulências políticas e econômicas, somado aos preços atrativos dos módulos fotovoltaicos, uma nova onda de investimentos deve consolidar as fontes limpas como as principais geradoras para o futuro na região.

Dados da Bloomberg New Energy Finance, empresa analista do mercado, confirmam esse barateamento dos painéis, que estão 60% mais baratos que em 2009, e também apontam para a crescente demanda energética nesses países, a qual sobe cerca de 4.5% ao ano, conforme suas populações aumentam e passam a usufruir cada vez mais de confortos tecnológicos que consomem energia, como o ar condicionado.

Apesar de alguns países da região relutarem em começar a implantar essa tecnologia, principalmente aqueles com reservas de petróleo, especialistas enxergam na fonte solar a opção mais inteligente para suprir esse consumo gradativo. De acordo com Elena Giannakopoulou, uma economista de mercados de energia na Bloomberg, em Londres, diz: “Nós esperamos que eles comecem a investir, porque é mais barata, faz sentido”, a radiação solar da região é muito estável e “eles tem problemas que a solar pode resolver, como a seguridade no fornecimento. ”

Impasses para a aplicação da energia renovável

A despeito desse renovado interesse pelas fontes limpas, certas dificuldades têm atrapalhado sua implantação em alguns países, de acordo com Browing Rockwell, diretor executivo da Solar GCC Alliance, um grupo de comércio solar para o Golfo Pérsico. Políticas instáveis e o descumprimento por parte de alguns oficiais nas metas estabelecidas, são exemplos dos entraves que essas tecnologias têm enfrentado na região.

Rockwell cita como exemplo o Egito, onde grandes projetos solares programados ficaram na incerteza após um impasse governamental com investidores sobre termos de contrato, seguido por uma mudança abrupta no piso de pagamentos prometidos. A recente flutuação da moeda e mudanças nas políticas locais são outros problemas enfrentados por investidores da tecnologia no país.

Na Arábia Saudita, líderes deixaram de cumprir com seus compromissos, anunciando ambiciosas metas em energia renovável e depois voltando atrás. O país, que tem sua receita amplamente dependente do petróleo, assim como parte de sua geração elétrica, também sofreu abalos em seu orçamento com o baixo preço do insumo.

Um poder político centralizado e controle estatal sobre os serviços também podem dificultar as negociações, diz Rockwell, “As pessoas estão um pouco fatigadas, porque tem havido muita promessa e propaganda exagerada, ” ele explica. Agora, no entanto, muitas nações “estão chegando em um ponto onde elas não têm escolha” senão ficar sérias a respeito a energia renovável.

O especialista afirma que, se a Arábia Saudita optar por investir forte no desenvolvimento de seu setor solar, suas empresas poderiam se tornar os fornecedores e instaladores da região. “O país sempre tem sido o grande multiplicador para a região. Eles podem guiar o desenvolvimento da fonte solar em outros mercados”. Segundo ele, se o país falhar em investir pesado na fonte solar, eles irão perder a chance de impulsionar sua produção energética e criar uma nova fonte de empregos para uma bem-educada, porém subempregada, geração de jovens.

Ainda segundo Rockwell, o grande obstáculo para o crescimento da energia renovável em toda a região é a extensa oferta de subsídios para as fontes de energia por combustíveis fósseis. O Fundo Monetário Internacional estima que o Oriente Médio, a África do Norte e o Paquistão representam, juntos, por 47% dos subsídios mundiais, embora algumas nações, incluindo os Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita, começarem a recuar.

Especialistas dizem que os subsídios alimentam a corrupção, desencorajam o uso eficiente de energia e dificultam a competição das novas fontes. No entanto, a maior vantagem que a fonte solar tem agora é seu preço. Christian von Tschirschky, um especialista em energia da empresa Ernst & Young, em Dubai, diz: “Esse era o maior desafio no passado, energias renováveis eram mais caras que as tecnologias para queima do petróleo e gás. Agora, são mais atrativas”.

Países da região com projetos Solares

Os países importadores de energia são, sem surpresa, os que estão investindo mais agressivamente. A Jordânia vem se destacando no uso da fonte solar e possui um forte entusiasta na figura do Rei Abdullah II, que no ano passado inaugurou uma usina solar para fornecer energia ao seu palácio, incluindo uma nova frota real de carros elétricos. O investimento na tecnologia, e a consequente independência energética, é uma questão de segurança política e econômica para o país, que enfrentaram interrupções em seu fornecimento de gás natural vindo do Egito quando um gasoduto foi repetidamente bombardeado durante as revoltas da primavera Árabe.

A usina solar Shams Ma’na, construída pela First Solar e de propriedade de um consórcio de empresas, começou suas operações comerciais em setembro. Localizada próximo a antiga cidade de Petra, ela possui 52.5MW (Megawatts) de capacidade, quantidade suficiente para alimentar mais de 35 mil casas. Já a usina eólica Tafila, com 38 turbinas, ajudou para aumentar a capacidade energética total da Jordânia em 3% quando inaugurada no ano passado, de acordo com a Masdar, uma das empresas responsáveis pelo projeto.

Além dessas instalações já em operação no país, quase 600MW em novos projetos solares serão anunciados nessa semana em um evento realizado pela Associação de Empresas Solares do Oriente Médio (Middle East Solar Industry Association, ou MESIA), a qual tem sido uma intermediadora vital para a indústria na região. O evento, chamado “Missão Comercial de Energia Solar Jordânia/Palestina”, será realizado na cidade de Amã, na Jordânia, em parceria com o Ministério de Energia e Recursos Minerais da Jordânia e o Ministério de Energia da Palestina. Além do anúncio desses projetos, a MESIA informou que detalhes sobre o próximo leilão solar na Jordânia também serão divulgados, ao mesmo tempo em que empresas irão apresentar seus planos para a implantação solar no país.

O desenvolvimento da tecnologia na Palestina é, compreensivelmente, mais complicado. Com uma falta de terras para sua construção e uma série de entraves políticos, o país fica, frequentemente, dependente de programas de incentivo para qualquer tipo de projeto solar. No entanto, eventos recentes estão animando o mercado, como a liberação, em julho, de uma licença para a construção de uma usina solar de 5,7MW, a qual será o primeiro projeto de utilidade pública do país. Além disso, a Autoridade Energética da Palestina anunciou que irá leiloar permissões para a construção de 10 usinas solares de no máximo 10MW cada.

As cidades de Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, também estão sérias sobre a energia renovável. As emissões de dióxido de carbono dos principados do Golfo Pérsico estão entre as maiores do mundo, e os Emirados se comprometeram em reduzir esses níveis. A meta de Dubai é fazer com que 25% de sua energia seja gerada por fontes limpas até 2030 e 75% até 2050.

A Autoridade de Eletricidade e Água de Dubai informou, em maio, que recebeu um lance de 2,99 centavos de dólares por quilowatt-hora de desenvolvedores disputando uma participação na terceira fase de implantação do gigantesco parque solar Mohammed bin Rashid al-Maktoum, que deverá ser um dos maiores do mundo quando finalizado. Foi um recorde que não durou muito tempo. Em setembro, a cidade vizinha de Abu Dhabi recebeu um lance de 2.42 centavos de dólares, se tornando um novo marco em um setor onde os preços vêm caindo drasticamente em busca de competitividade com fontes tradicionais de energia.

Já o Iraque, reabrindo para o mundo conforme as sanções impostas amenizam, está ansioso para modernizar sua infraestrutura energética, e planeja convidar empresas para lançarem suas ofertas em projetos solares e eólicos que poderão totalizar U$12 bilhões, como reportou a Bloomberg.

Vê-se na região, que o interesse pela energia renovável está dividido entre os países ricos em petróleo e gás, mais notadamente a Arábia Saudita, e aqueles que precisam comprar combustíveis além de suas fronteiras. Porém, ambos possuem um incentivo para expandir sua geração solar, as nações produtoras para assim conseguirem vender mais do que extraem e as que importam para assim reduzirem sua dependência em mercados internacionais voláteis.

Fonte de informação (em inglês): The New York Times

Tradução e produção: Ruy Fontes.