Assim como o faz em várias partes do mundo, a tecnologia fotovoltaica hoje cresce no Brasil com a força de seus preços competitivos aliado ao apelo de sua sustentabilidade, porém ainda enfrentando certos obstáculos.
Desde 2014, ano em que passou a disputar projetos em leilões de energia, a solar fotovoltaica apresentou uma queda de quase metade do valor da sua energia vendida.
Fruto dos ganhos de escala, melhorias tecnológicas e aumento da sua eficiência, ela se tornou uma forma de geração mais barata do que todas as fontes fósseis, biomassa e até hidrelétrica (pequenas centrais).
Com isso, hoje a energia solar se consagra como a campeã de projetos de usinas contratadas, somando quase 1,4 gigawatts de potência a serem instalados dos projetos vencedores nos últimos dois leilões A-4 realizados pelo governo.
A quantidade de equipamentos que esses projetos irão necessitar para sair do papel cria uma demanda que empresas e fábricas brasileiras esperam atender através de seus produtos.
Essa cadeia produtiva nacional, entretanto, sofre com um problema antigo da política brasileira : a alta carga tributária, que acaba encarecendo demais os produtos internos.
O problema maior está na fabricação de módulos fotovoltaicos, que recebe alta tributação sobre a sua matéria-prima importada e acaba ficando até 30% mais caro que uma placa fabricada lá fora.
Isso fica claro quando vemos que demais equipamentos do sistema fotovoltaico e dos projetos centralizados, como inversores, estruturas e rastreadores, já apresentam preços competitivos de suas versões nacionais.
Esse alto custo dos módulos nacionais cria outro problema para a expansão dos projetos solares no Brasil, a impossibilidade de financiamento pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Como o intuito nos leilões é oferecer energia ao menor preço possível, o uso de módulos nacionais se torna impraticável nos projetos, o quê, por sua vez, torna-os ilegíveis para contar com as linhas de crédito facilitadas do BNDES.
Como resultado, trava-se a cadeia produtiva nacional e, também, o próprio financiamento nacional.
Perspectivas Futuras
Até o presente momento, parece que a energia solar deverá continuar abrindo caminho a força no país, com muito pouco sendo feito para reparar esse cenário.
Em termos de certames, embora os dois últimos leilões A-4 tenham sido conquistados pela solar, eles ainda não cobrem o buraco deixado no setor pela falta de contratações em 2016.
Na época, a fonte sofreu com o cancelamento de um dos certames do governo e foi ilogicamente excluída do outro, fato repetido este ano, ficando de fora do leilão de energia nova A-6, a ser realizado o final deste mês.
É possível ver, então, um descaso do governo brasileiro em relação a energia solar fotovoltaica e seu potencial para diversificação e produção na matriz energética do país.
Quando o comparamos a outros países do mundo, como China e Índia, vemos que essa falta de apoio pode já ter nos custado muitos anos de progresso do setor solar nacional.
Na China, um governo altamente eficiente e focado na sua transição energética limpa alavancou o país a maior produtor de energia solar do mundo, com 130 gigawatts instalados até o final de 2017, quase toda a matriz elétrica brasileira, com 160 GW.
Também buscando limpar suas pegadas de carbono do setor elétrico, o governo indiano implementou um programa transversal que apoia tanto projetos centralizados como também os distribuídos em casas, comércios, etc, obtendo crescimento de 10 GW em 2017.
Essa mesma necessidade de energia solar se faz presente em nosso país, que precisa de alternativas limpas para suprir o declínio de sua produção hídrica e a alta do preço da sua energia.
Contudo, a certeza que fica é que a energia solar, por si só e com a força de trabalho do setor, continuará a crescer no Brasil. Com 1,5 GW instalados até junho deste ano, as previsões são de mais 900 megawatts (MW) até o final de 2018.