Embora de proporções menores que o Brasil, o Chile também possui grande potencial para a geração de energia solar disponível em seu deserto do Atacama e suas ações nesse setor podem servir de exemplo para o nosso país.
Com uma extensão de 105.000 km², Atacama é caracterizado como a região mais árida e com a maior radiação do mundo, o que o tornou um cenário perfeito para gerar energia solar fotovoltaica em larga escala.
Com 4.000 horas de sol por ano e uma média de radiação 65% mais elevada do que a da Europa, o potencial dessa área é tão grande que estima-se que, com apenas 5% de sua capacidade, seria possível abastecer todo o Chile com energia limpa.
Mas o que tem colocado o Chile em destaque no mercado mundial de energia solar não são apenas as suas características geográficas, mas também suas fortes políticas de incentivo ao desenvolvimento de energias renováveis.
De fato, em 2015, a ex-presidente Michelle Bachelet lançou a política “Energia 2050”, estipulando esse prazo para o país atingir a meta de 70% da geração de eletricidade a partir de energia limpa.
O crescimento foi tão forte, no entanto, que a meta foi revisada pelo atual governo de Sebastián Piñera, estimando-se agora que, em 2040, o Chile deverá ter 100% de energia por fontes renováveis.
Quando olhamos o histórico do crescimento das renováveis no país, que aumentaram a sua participação na matriz energética do Chile de 7% em 2014 para 17% em 2017, essa meta não parece impossível.
De acordo com os dados de 2017, o tipo mais consolidado de energia renovável no Chile é a energia solar fotovoltaica, que representa 7% da geração total de eletricidade do país.
Por outro lado, mais de 70% dos novos projetos de energia limpa correspondem à energia solar fotovoltaica.
Como grandes geoglifos modernos, as usinas solares vão tomando a paisagem do deserto chileno, gerando energia limpa e, principalmente, mais barata.
Com poucos recursos fósseis, o Chile por muito tempo se viu sem escolha a não ser importar energia de outros países, o que por muitos anos resultou em altos preços para os consumidores, chegando ao pico em 2011.
Isso agora mudou e os projetos de usinas solares seguem apresentando queda nos preços de sua energia, somando 60% de depreciação desde 2014.
A energia é tão barata e eficiente que o grande setor de mineração do país, que representa cerca de 1/3 do consumo elétrico total do Chile, é o maior consumidor da energia solar.
O negócio ainda é tão vantajoso que muitas das empresas, apostam em projetos próprios, reduzindo ainda mais os gastos com energia elétrica.
Nesse cenário de expansão, agora o maior desafio do país é levar essas grandes cargas de energia gerada nessa região deserta para ser consumida nos centros urbanos.
Até novembro do ano passado, o Chile tinha redes elétricas separadas para suas regiões centrais do norte e mais populosas, separando a maioria da população de seus recursos de energia renovável.
Um gigantesco projeto para conectar as duas redes, iniciado em 2015, agora começa a escoar a energia do Atacama à medida que as linhas de transmissão são concluídas.
Os enormes painéis solares espalhados na paisagem do deserto são impressionantes, certamente, mas com a mudança climática se aproximando, eles também são um investimento no futuro da nação e um modelo a ser seguido pelo Brasil.