A revolução energética em progresso no mundo hoje está trazendo mudanças nos mercados de energia de todos os países que investem em energias limpas, como a solar fotovoltaica e eólica.
Os países da América Latina, que começaram tarde os investimentos nessas tecnologias, quando comparados aos países desenvolvidos, estão agora correndo para adaptar suas infraestruturas para acomodar os projetos de geração por essas fontes.
Isso porque, geralmente, esses projetos de usinas de energias limpas são instalados em locais remotos, especialmente no caso da tecnologia eólica que, por ser mais abundante em regiões específicas, acabam ficando longe das redes elétricas dos países, necessitando que novas linhas de transmissão sejam instaladas para escoar a energia produzida.
Essa situação já se tornou crítica em alguns países, como no Brasil, por exemplo, onde 355 megawatts de energia já poderiam estar sendo gerados por parques eólicos finalizados, mas que não o fazem exatamente por não ter essas linhas de transmissão à disposição.
Outro caso é o do Chile, onde a falta de linhas de transmissão para escoar o excesso produzido em uma região do país fez com que o preço da energia caísse a zero para os moradores locais, trazendo prejuízo para a empresa responsável pelo projeto.
O México, por sua vez, possui projetos parados de usinas solares e parques eólicos que, juntos, somam 5.000 megawatts, e que só não saem do papel pelo mesmo motivo.
“A América Latina está com pressa porque não coordenou a expansão da geração com a construção de infraestrutura nova. A conexão é um problema.”, disse Ramón Fiestas, presidente do conselho do Comitê Latino-Americano do Conselho Mundial de Energia Eólica.
Leilões que Atraem Bilhões
O lado positivo disso é que, para adequar essa situação, bilhões em investimentos em linhas de transmissão serão atraídos para esses países.
Somente o Brasil e México podem trazer cerca de US$14 bi durante os próximos dois anos, através dos seis leilões programados. O Chile deve finalizar ainda neste ano de 2017 a instalação de 3.000 quilômetros dessas linhas para ligar as suas duas principais redes elétricas.
Já a Argentina poderá evitar esse erro, apresentando um setor de renováveis ainda em fase inicial, ela pretende investir, simultaneamente, nos projetos de usinas geradoras e redes de transmissão.
No Brasil, a situação é crítica. 16.500 quilômetros de linhas de transmissão que deveriam já estar instaladas e operando ao final de 2016 estão com suas obras atrasadas, segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Se o país espera conseguir escoar a capacidade instalada das usinas de energias limpas, operantes ou programadas, 44 mil km de linhas de transmissão precisam ser instaladas até o fim de 2023.
Dos três leilões programados para 2017 pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), um já foi realizado no último 24 de abril. Os 31 lotes de concessão leiloados totalizaram 7.068 km de linhas e atraíram investimentos no valor de R$12,7 bilhões.
A boa notícia para o consumidor é que o leilão apresentou uma depreciação média de 36,47% do valor inicial previsto, o que resultará em tarifas de energia mais barata, representando uma economia de R$24,2 bilhões em 30 anos.
O prazo para essas linhas entrarem em operação é de 36 a 60 meses a partir da assinatura dos contratos.
Espera-se que os próximos leilões sejam igualmente bem-sucedidos e que essas linhas entrem logo em operação, levando a energia limpa até os consumidores que precisam dela.