O Jornal do estado do Paraná apresenta o enorme crescimento apresentado pelo segmento de geração distribuída no Brasil, os incentivos que ajudaram para isso e o que ainda precisa ser melhorado.
O jornal Paranaense Gazeta do Povo, divulgou uma matéria sobre a geração distribuída no Brasil, suas conquistas nos últimos anos e os desafios ainda a percorrer.
No início da reportagem, é apresentado o salto gigantesco no número de sistemas instalados, de menos de 5 em 2012 para mais de 5 mil neste ano.
Dentre esses consumidores/produtores de energia, também chamados de “prosumidores”, que instalam os sistemas em suas casas e empresas, a maioria absoluta utiliza a luz do sol como fonte de energia.
A matéria mostra como, apesar da ausência de subsídios e da crise econômica atual, o setor vem crescendo a passos largos, principalmente devido ao potencial da fonte Solar no país.
Conforme dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), setembro registou 5.040 sistemas de micro e minigeração conectados à rede elétrica, destes, 4.955 são fotovoltaicos e representam uma potência instalada de 35,9 mil kW (quilowatts). Ainda de acordo com a agência, até 2024 serão cerca de 1,2 milhão de unidades consumidoras/geradoras de energia.
Os sistemas fotovoltaicos residenciais são os maiores agentes dessa revolução energética, representando 78% do total instalado, os comerciais contabilizam por 16% e as indústrias por apenas 2%.
No top 5 dos estados com mais sistemas conectados, Minas Gerais lidera com 1.226, seguido por São Paulo com 711, Rio Grande do Sul com 564, Rio de Janeiro com 543 e Paraná com 459. Neste último, a distribuidora local (COPEL), segunda em número de sistemas conectados, informou que mais da metade dessas conexões foram instaladas este ano.
Em termos de potência gerada, de janeiro do ano passo até o último agosto, foram injetados 62 mil MWh (megawatts-hora) na rede da distribuidora Paranaense, quantidade suficiente para abastecer por um mês a cidade de Ponta Grossa e seus 341 mil habitantes.
Dentre os fatores que ainda podem melhorar para consolidar de vez a tecnologia fotovoltaica como fonte de energia, o preço dos sistemas é um dos principais, apesar de já ter apresentado uma queda de mais de 60% nos últimos 4 anos. O tempo de retorno do investimento, por sua vez, reduziu de 14 para cerca de 7 anos. Quando comparado com a vida útil desses sistemas, que é acima de 25 anos, esse payback é muito atraente.
MARCO REGULATÓRIO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO BRASIL
Essa explosão do setor solar não teria sido possível não fosse a publicação da Resolução Normativa Nº 482 da ANEEL, em abril de 2012, a qual criou o sistema de compensação de energia elétrica e possibilitou aos consumidores conectarem seus sistemas à rede das distribuidoras e serem compensados pela energia que injetam nela. Já em 1º de março deste ano, entrou em vigor as novas regras do sistema, através da Resolução Nº 687, que introduziu novas modalidades para geração distribuída e possibilitou aos moradores de prédios e condomínio também poderem gerar sua própria energia.
Melhorias da Resolução Normativa Nº 687
Autoconsumo remoto
Consumidores que não possuem espaço para a instalação dos módulos fotovoltaicos em seu local, como moradores de apartamentos, empresas em salas comerciais, entre outros, antes eram impossibilitados de usufruir dos benefícios da energia solar. Com a nova resolução, agora é possível a instalação dos sistemas em uma outra localidade, desde que seja da mesma titularidade e esteja na mesma área de concessão da distribuidora, e utilizar os créditos energéticos para abatimento do consumo em seu local.
Geração Compartilhada
Antes a utilização dos créditos ficava restrita ao consumidor, tanto para a pessoa física como jurídica. Agora, é possível que os consumidores se unam através de um consórcio ou cooperativa, desde que as unidades consumidoras estejam dentro da mesma área de concessão ou permissão da distribuidora, e compartilhem a energia gerada entre eles através da geração compartilhada.
Geração em Condomínios
A nova resolução também possibilitou aos moradores de condomínios residenciais, prédios ou qualquer outro local privado com múltiplas unidades consumidoras, a instalar uma central de mini ou microgeração e distribuir a energia entre os condôminos, de acordo com a parte acordada entre eles.
Nelson Colaferro, sócio-diretor da Blue Sol Energia Solar, falou sobre o assunto a reportagem: “O Brasil tem um dos melhores modelos regulatórios do mundo para geração distribuída de energia. Passada essa fase natural de entendimento e adaptação às regras, devemos ter um salto de crescimento da geração doméstica”, avalia.
Nelson ainda fala sobre um dos obstáculos a serem superados para uma maior disseminação da tecnologia, que são as linhas de financiamento para energia solar. De acordo com o empresário, estas ainda são poucas e apresentam taxas de juros muito elevadas, o que acaba desestimulando o consumidor.
Boa parte da população ainda desconhece as vantagens da energia solar e essa questão também precisa ser superada para consolidar o mercado.
Quando se trata de incentivos, o setor vem conseguindo grandes resultados, como o convênio do CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária) para isenção do ICMS sobre a energia gerada pelos sistemas fotovoltaicos. Hoje, apenas 5 estados ainda não aderiram e Paraná é um deles.
O projeto de lei para a adesão ainda corre no plenário do estado, porém mesmo sem o benefício ele já vem se destacando, em parte por causa do seu potencial de geração, o melhor entre os estados da região sul, de acordo com a ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Brasileira).
Seu presidente, Rodrigo Sauaia, afirma: “O Paraná está entre os estados com o maior número de conexões, mas pode ocupar uma posição ainda melhor se aderir à isenção do ICMS”.
NA PRÁTICA
Em países desenvolvidos, como a Inglaterra, a tecnologia fotovoltaica já está bem mais popularizada e os módulos podem ser vistos na maioria das residências.
Esse sucesso de sustentabilidade foi o que inspirou o arquiteto Diogo Moro Cunha, que após alguns anos morando e trabalhando por lá, voltou para o Brasil e projetou sua nova residência toda de forma sustentável, onde tudo é movido por energia elétrica, sem a necessidade do uso de gás.
Para suprir essa alta demanda, ele instalou um sistema fotovoltaico com 28 módulos, no valor de R$68 mil. O projeto produz em média, mensalmente, 680kWh (quilowatts-hora), que atende com folga o consumo da família em sua residência, cerca de 500kWh/mês.
Por dia, cerca de 23,6kWh são produzidos, contra os 15,9kw consumidos. Esse excedente produzido é então injetado na rede da distribuidora e posteriormente compensado na conta de luz, quando a geração do sistema não atende o consumo, como no inverno, quando o nível de radiação solar é menor. “No verão, a geração é maior do que o consumo, mas na metade do ano essa tendência se inverte. Mesmo assim, na média anual, o saldo é positivo”, explica Diogo.
O payback do investimento do arquiteto, morador da capital Paranaense de Curitiba, é de 14 anos, e quanto a isso ele reclama: “Se o Paraná tivesse isenção de ICMS para geração fotovoltaica, o tempo de retorno do investimento cairia para oito anos. Como microgerador de energia eu benefício o sistema como um todo, mas sou penalizado por isso”
Fonte de Informação: Gazeta do Povo